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É humano o ser humano?

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Meu artigo publicado na edição de 29 de Novembro do Jornal Diário do Vale.


Seres humanos assustam, é verdade. A nossa é a única espécie neste vasto planeta cuja maldade e ganância parecem não ter fim. Somos os únicos que matamos outros animais por esporte, lazer ou hobby. Divertimo-nos com a destruição de famílias inteiras. Colecionamos corpos de pais que tiveram suas vidas interrompidas antes de poderem ensinar seus filhotes a voar. Vendemos por preços altíssimos a requintada vitela, retirada com crueldade dos bebês bovinos, cujo único crime foi terem nascido machos em empresas que apenas exploram o leite materno. O mesmo acontece nas granjas, com os pequenos recém-saídos dos ovos, que, ainda vivos, são atirados ao moedor por não terem utilidade para o criadouro. Ser a espécie dominante requer uma incrível perda daquilo que nós, ironicamente, chamamos de humanidade. 
Há pouco li uma triste reportagem sobre um babuíno que, de acordo com o jornal, atacava visitantes, na Cidade do Cabo, na África do Sul, para roubar comida. Fred, como os habitantes o chamavam, foi abatido com nada menos que 50 tiros pelas autoridades sul-africanas, e a população comemorou o feito. 
A população comemorou o assassinato – a sangue frio – de um ser vivo que queria apenas não morrer de fome. A tendenciosa reportagem vilanizava o animal como se ele pudesse responder pelos próprios atos, como se os ataques acontecessem por maldade do primata, e não por ser esta a única opção de sobrevivência que ele encontrou. 
A natureza é clara. Se lhe tiramos espaço, ela irá reivindica-lo cedo ou tarde. É assim com os desertos, é assim com os oceanos. A natureza sempre vai buscar uma forma de sobreviver às gananciosas investidas dos humanos. 
Fred teve seu habitat tomado, suas fontes naturais de sobrevivência e alimento foram destruídas – e, provavelmente, ninguém pensou no que fazer com os seres que dependiam daquela floresta para existir. Mas seu instinto de sobrevivência era forte, então ele se adaptou. Descobriu aonde encontrar comida e aprendeu a escolher o momento certo de pegá-la. Depois de perder sua casa, família e suas condições básicas de sobrevivência, nada é mais normal do que se tornar arisco. É preciso se defender dos predadores. E Fred aprendeu com a dor como a nossa espécie é a mais friamente predatória de todas. Logo, como qualquer um que entra no caminho dos interesses humanos, “ele precisou ser sacrificado porque representava um grande perigo às pessoas”. 
Quem representa perigo maior dentro deste planeta? Um babuíno que precisa sobreviver? Ou quase oito bilhões de animais que se esquecem de que também são animais e matam por qualquer motivo? 
Nós matamos uns aos outros por qualquer motivo. Não amamos e respeitamos nem a nossa própria espécie. A saída para nós seria o extermínio, então? 
Não me entenda mal, eu gosto dos seres humanos. Costumo até ser otimista a respeito de para onde caminha a humanidade. Acredito em mudanças e, acima de tudo, acredito na bondade, mas a maldade humana me magoa demais para ficar calada. Eu me proibi a alguns anos de perder a fé, porque, se não acreditarmos que as coisas podem ser diferentes, tudo vai continuar assim. 
Concluo meu relato com as palavras de Wesley Faria, defensor dos direitos dos animais: “Animais podem nos ensinar muito mais do que nós a eles. O sentido de comunhão, amizade e partilha é algo comum entre eles. Quanto aos homens, temos muito que aprender ainda para sermos chamados de bichos.”

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"É preciso ter força para esconder os próprios males, mas é preciso coragem para demonstrá-los"

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