Porque grandes garotas não choram. Elas escrevem.

Sobre um anjo

sexta-feira, 4 de maio de 2012


Quem dera a saudade te trouxesse de volta.


Nesta semana, finalmente, minha tia conseguiu vender a casa em que meu tio cometeu suicídio. Não havia outra opção. Era doloroso demais estar naquele lugar, repleto das mais bonitas lembranças, e também da pior de nossas vidas.
Alguns móveis, que ainda estavam lá, vieram para minha casa. O acordo era que ficaríamos com os que nos servissem de alguma forma, e o outro levaríamos para a casa da nossa família, no interior de Minas.
Cheguei em casa hoje e me deparei com tudo isso, e as lembranças não puderam deixar de vir. Fiquei com um cabideiro simples, desses onde se penduram chapéus, casacos e bolsas.
Quando disse que ficaria com ele, não havia me dado conta de toda a bagagem que isto iria trazer. Cá estou eu, às quatro da manhã, sem saber como tirar da minha mente as lembranças e a saudade, que não me deixam dormir e nem superar.
Faz quase dois anos, mas ainda não acredito que ele partiu. Às vezes me pego pensando em passar na casa deles para ver se ele se sentia melhor. E aí eu me lembro de que ele não estará lá para me responder. E tudo que eu iria encontrar é a hostilidade de uma pessoa que se viu sozinha, quando pensou que jamais estaria.
Eu sei que chorei mais do que sabia que era capaz quando ele partiu. Senti como se parte de mim estivesse sendo enterrada também. E, de fato, estava.
Naquele dia deixei para trás toda uma vida que havíamos construído em sonhos. Adorávamos falar sobre o futuro. A cada passeio, nutríamos um pouco mais os sonhos. Ele sonhava em estar presente neste nosso futuro. “A vida seria linda.” Ele acreditava nisso mais do que todos nós.
Não acreditava na seriedade de uma depressão até essa doença lhe tirar o que havia de melhor. De todos que poderiam ousar pensar em tirar a própria vida, ele era o mais improvável. Por que alguém que amava tanto viver, que se satisfazia com felicidades puras e simples, que sorria sem esforço algum, por que alguém tão positivo entra em um estado depressivo tão sério a ponto de precisar pôr um fim ao sofrimento desta forma tão drástica.
Amigos psicólogos, psiquiatras ou pessoas entendidas podem continuar tentando me explicar, mas jamais aceitarei este fato. A pessoa que se pendurou pelo pescoço e sufocou até a morte não era o homem que eu chamei de tio por toda a minha vida. Ele jamais faria isso.
O homem que conheci, apesar de nunca ter sido pai, me tratou como uma filha por toda a minha infância, me fez sentir especial e amada. O homem que me levou pela mão em tantas manhãs quentes, nunca optaria por nos deixar.
Agora estou aqui, rodeada por móveis carregados de recordações, e até o cheiro dele ainda está aqui. Não tenho certeza se quero ficar com este cabideiro. Não tenho certeza se mantê-lo preso a mim é uma boa ideia.
De tudo que eu sou hoje, de todas as coisas boas que eu tenho em mim, mais da metade foi ele quem me deu. Ele, sua generosidade e amor infinito, me salvaram de ter uma vida triste baseada em ausências, para me dar uma vida cheia de esperança e possibilidades.
No entanto, ele não ficou aqui para compartilhá-la comigo. No entanto, ele se foi antes de ver o resultado de todo o trabalho que dei.
Como se supera uma perda tão terrível? Como se aceita e segue em frente?
Sei que estou vivendo, mas esse vazio continua aqui. Eu pensei que, com algum tempo, a dor deixaria de incomodar e somente a saudade viria de vez em quando. Mas ainda dói, principalmente agora.
Como posso me conformar? Como posso deixa-lo partir?
Não tenho nem ideia de como terminar este texto. Isso foi um desabafo, escrito devagar, em meio a espasmos e soluços de uma dor, que fica contida, mas parece que nunca mais vai diminuir.
Sinto que aceitar que ele partiu é como desonrar tudo o que ele fez por mim e tudo o que ele representou em minha vida. Não sei como terminar este texto, assim como não sei o que fazer com toda essa dor.
Espero que me desculpem se soei dramática, mas esse é um dos poucos momentos em que não exagerei a minha dor. Na verdade, creio que não consegui expressá-la em sua totalidade.
A perda é a pior das angustias... E acho que nunca vou me acostumar.


2 vozes:

Thiago 4 de maio de 2012 às 09:46  

A dor da perda é realmente incomparável, mas ela esta aqui para nos lembrar que tinhamos algo que realmente valeu a pena e nos ensinar a aproveitar a vida e as pessoas que amamos o maximo possivel.

Espero que sua dor diminua ate que te reste somente o amor que sentia por ele.

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"É preciso ter força para esconder os próprios males, mas é preciso coragem para demonstrá-los"

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