Porque grandes garotas não choram. Elas escrevem.

Do que eu prefiro me lembrar

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Lembra-se de quando eu queria brincar de fazer perguntas, mesmo contra a sua vontade? Não era mera curiosidade. Eu sabia que éramos muito diferentes e eu precisava te conhecer melhor, encontrar afinidades e acreditar que todo aquele sentimento poderia criar raízes para, então, ter ramos.
As pessoas perguntavam como esperávamos dar certo, sem ter quase nada em comum. Você concordava com elas, enquanto eu usava de todos os argumentos para defender que não precisávamos ser iguais para sermos um casal. Quem será que tinha razão? Não sei dizer, mas eu carrego esta sensação de que não fomos mais, não pelas nossas diferenças, mas por uma das poucas características que temos em comum: Esta irremediável impulsividade.
Em um piscar de olhos você já tinha um assento com o seu nome na minha vida, por vontade minha, por vontade nossa. Em outro piscar de olhos você já tinha tocado tão fundo a minha alma, que encontrou feridas que ninguém, além de mim, jamais soube que existiam. Os olhos piscaram de novo e todo o brilho se esvaiu. Pisquei novamente e você não estava mais lá, por vontade minha (ou nossa?).
De tempos em tempos, alguém me pergunta por que não fomos adiante. Ou nossa família, famosa pela indiscrição, diz acreditar que um dia ainda há de ser. Nesses momentos me lembro de todos os motivos pelos quais não foi. Recordo-me das incompatibilidades, das pequenas juras nunca cumpridas, da doçura se esvaindo. Lembro-me, com uma pitada de mágoa, de todas as acusações, palavra por palavra, das qualidades que, com o convívio, se tornaram defeitos. E, por fim, me lembro das ocasiões em que te vi esboçar um sorriso e dar um passo em minha direção, para depois dar dois para longe de mim. E, nesses momentos, como disse uma sábia amiga, eu entendo quanta mágoa tanto amor pode causar.
Mas, em noites como esta, enquanto reviro algumas fotos, seu twitter e tudo o mais que me aproxime de você, penso que tínhamos tudo, menos coragem, para assumirmos os riscos, darmos as mãos e plantarmos as flores no caminho da nossa estrada.
Se éramos tão diferentes, por que eu sabia exatamente como você se sentia, quando duvidava de si mesmo? Se não tínhamos nada em comum, como você conseguiu ser, com tamanha perfeição, quem eu precisava que você fosse, quando finalmente me abri sobre o pior trauma que carregava? Você se lembra das palavras que usou, enquanto não diminuía, nem por um segundo, a força daquele abraço? Você me disse para não ter medo porque, enquanto você estivesse aqui, eu estaria protegida. E eu acreditei em você.
A partir daquelas palavras, eu tratei de transformar meu medo em força e, acredite você ou não, mudei muito por isso. Sim, você iniciou o processo que fez das minhas feridas abertas, apenas cicatrizes. De forma suave, você era capaz de sacudir e mudar o meu mundo.
O seu sorriso mudava o meu dia. E uma lembrancinha pequena, como aquela caixinha-cartão que te dei, era capaz de tirar de você o mais belo dos sorrisos. Eram dias completos aqueles em que eu sentia que havia colaborado para a sua felicidade. Assim como eram cinza os dias em que eu falhava.
Quando o nosso monocromático fim chegou, já estávamos vivendo como as produções em preto e branco do cinema mudo há algumas longas e dolorosas semanas. Doía estar com você em silencio, assim como doía não te ter por perto.
Mas, apesar de tudo, me recordo tão bem de quando ainda havia cores à nossa volta. A vida era um campo de lilases desabrochando e tudo cheirava bem. Você dizia que, se fosse um sonho, não gostaria de acordar. E eu pedia aos céus para que não fosse.
Eles me ouviram, pois não era. Era o melhor pedaço de realidade que a vida já tinha me permitido provar. No entanto, éramos duas pessoas imaturas demais para medir as discussões, pesar as prioridades e ceder, quando necessário, em nome do sentimento que dizíamos ter. Éramos como crianças, que não sabiam como reagir, além de reclamar, quando o seu desenho preferido acaba. E preferimos quebrar a tevê, em protesto.
Mas, apesar disso tudo, não era um sonho. E as crianças, cedo ou tarde, crescem.
Nunca nos demos outra chance de ver o quanto crescemos nestes anos de distância e silêncio. Sei que o que perdemos em tempo, podemos ter ganhado em sabedoria, experiência, tolerância e, talvez, saudade. E, quem sabe, eu precise mesmo esgotar todas as tentativas, enquanto ainda restar esperança, para voltar a ver a vida em sua aquarela total.
Sinto falta do lilás, que perdi de vista junto com você.

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"É preciso ter força para esconder os próprios males, mas é preciso coragem para demonstrá-los"

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